João Oliveira, diretor geral de operações e inovações da Volvo do Brasil, foi o entrevistado desta sexta-feira (14) à Live do Tempo

João Oliveira, diretor geral de operações e inovações da Volvo do Brasil, disse, nesta sexta-feira (14) à Live do Tempo, que a marca está próxima de se tornar a segunda em vendas de veículos no segmento premium, depois de ter alcançado o terceiro lugar. Ele falou sobre os planos da empresa, a estratégia para se uma tornar uma montadora 100% de carrros sustentáveis e que espera chegar a 7.000 automóveis vendidos neste ano, após uma revisão da meta por causa da pandemia. Confira a entrevista.

Como foi passar por essa situação, trabalhando em casa, fazendo reuniões virtuais e lives? Aquele tempo  de avião, viagens, passou para os gestores do setor automotivo? Passou, com certeza, todo mundo vê que, na prática, teve que se acostumar a algo diferente. Nao é fácil, mas, em momentos como esse, temos que nos voltar para a nossa história, para a nossa companhia, o nosso DNA, o que nos move, para tentar encontrar as respostas. O trabalho remoto é mais difícil, a gente acaba extrapolando as horas. A gente sente falta do contato humano, o que tecnologia nenhuma cosegue substituir. Mas dentro de todas essas contigências, a gente tem procurado fazer o melhor possível nesse momento

A Volvo está com uma perfomance melhor de resultados em relação ao que era antigamente? Do ponto de vista do mercado, os resultados são interessantes.  Até março, a vinha superbem, numa tendência de crescimento para o ano, depois, a gente acabou baixando o volume . Mas quando a gente olha a posição da Volvo comparativa ao mercado, a gente percebe coisas interessantes. A Volvo teve uma redução de volume menor do que a média das premium, o que possibilitou que a gente consquistasse de maneira bastante sólida a a terceira posição do mercado. Hoje, a Volvo substiituiu a Audi nessa posição. A gente está numa distância muito pequena da Mercedes, que é a segunda colocada. É um caminho que vem sendo desenvolvido com bastante consistência e que, mesmo com toda a pandemia, conseguimos manter.

Na sua opinião, essa terceira posição é sustentável? Qual a projeção para 2020? Eu acerdito que é sim. É uma posição bastante sustentável para a Volvo. Acredito que a gente está mais no caminho do segundo lugar do que no de sustentar o terceiro lugar. A gente percebe que a diferença do segundo lugar é de 450 unidades aproximadamente no ano. É um diferença bastante enxuta. É uma posição que foi construída na estratégia corporativa que temos. Todo o nosso ciclo de produtos, todas as transformações que fizemos no Brasil,  fortalecimento de venda, de imagem de marca, a introdução de novas tecnologias, como os híbridos. O que a gente está observando agora é fruto de toda  essa estratégia implementada. Nossa tendencia é continuar crescendo.

Nos dados de julho da Abeifa, fala-se em um crescimento de 9% com relação a julho do ano passado. Vocês encerraram 2019 apontando crescimento acima de 20%. Qual é a atual projeção depois dessa oscilação do primeiro semestre? A gente falava em crescimento de mais de 20% para este ano, considerando um ano de normalidade. A gente teve o primeiro semestre afetado pela pandemia, e, agpra, durante o segundo semestre, a gente deve observar o efeito econômico de toda a situação da Covid-19. O ano passado para a Volvo foi de mais ou menos 8.000 carros, a gente esperava passar dos 10 mil neste ano. A nova projeção refeita para este ano é ao redor de 7.000 carros. A gente deve ter um ligeiro decréscimo em relação ao que foi ao ano passado, mas sustentando uma boa base de volume.

A Volvo tirou de linha o hatch V 40. Um dos carros que fez mais sucesso no Brasil foi o C 30. A marca desistiu de vez do segmento para priorizar os SUVs? É um movimento mundial. As caracterísiticas dos SUVs têm levado bastante vantagem em relação aos hatchs, por exemplo, por isso, as marcas têm desenvolvido mais produtos com essa linha. Nesse momento, não existe previsão para um hatch na Volvo que substitua o V 40. A gente tem algumas carrocerias que são novidades e entrarão no portfólio da Volvo. Não temos investido apenas em SUVs, mas, até o momento, nenhum hatch está confirmado.

Dá para adiantar algumas dessas novidades? A gente deve ter um veículo sendo apresentado numa carroceria diferente até o final do ano que vem. 

Esse ano com a pandemia  deu uma esfriada em lançamentos? Não só pela pandemia. Esse é um produto que já estava nesse ciclo esperado para o final do ano que vem. A Volvo tem investido globalmente em veículos híbridos e elétricos. A gente tem o objetivo de lançar pelo menos um veículo elétrico por ano nos próximos cinco anos. Esse produto que estou falando será 100% elétrico.

Pode nos contar um pouco sobre a tradição da Volvo em segurança? A Visão 2020 da Volvo buscando morte zero com nossos veículos foi logo no princípio da década passada, quando existia o objetivo da ONU de reduzir as mortes no trânsito em 50%. A Volvo entendeu que seria interessante para a companhia ter uma meta de chegar a zero. E é nisso que a gente tem se desenvolvido nesse tempo. A Volvo nasceu para isso. Há quase cem anos a Volvo foi fundada. No primeiro manual de um veículo  da Volvo, os nososo fundadores escreveram que os carros são dirigidos por  pessoas. Por isso, tudo que a gente faz tem que ser voltado para a segurança. A Volvo tem invenções importantes, o cinto de segurança de três pontos, por exemplo. Foi colocada uma patente aberta para que todas as montadoras pudessem utilizar. A gente também teve vidros laminados instalados pela primeira vez em um automóvel. E outras soluções que integraram os carros pela primeira vez. 

No mercado de SUV, está cada vez mais jovem o público comprador. Dentro da Volvo, qual o segmento que mais atrai esse público, segurança ou sustentabilidade? Tem um bom balanço. A sustentabilidade atrai mais as pessoas, no geral, não somente as mais jovens. A segurança é importante, mas acho que, quando a gente pensa em sustentabilidade, está pensando não só em proteger a si mesmo, mas a todas as outras pessoas. É um atributo que tem bastante apelo. O que a gente acompanha em matérias ambientas, as pessoas têm muita consciência do quanto isso é importante. A sustentabilidade hoje atrai mais os jovens como um diferencial para a Volvo. A segurança é um valor sine qua non da Volvo, as pessoas já esperam outras coisas além da segurança.

Como surgiu essa fama de segurança da Volvo? Isso deriva da consistência com que a gente vem trabalhando há muito tempo. Nos anos 50, os Estados Unidos estavam reformulando os protocolos de segurança veicular para o país e pegaram o Volvo para servir de benchmarking para escrever as regras de segurança. A Volvo, por exemplo, no ano passado, abriu todo o banco de dados de segurança para que qualquer marca possa consultar e ajudar no desenvolvimento de seus veículos. A gente percebeu, durante milhares de estudos de acidentes, por exemplo, que as mulheres tinham mais chance de se acidentar do que um homem. Quando analisamos mais a fundo a gente percebeu, por exemplo, que o padrão para teste de um veículo é um boneco que representa a estatura e o padrão físico  de um ser humano médio. Só que esse ser humano é um homem médio. A Volvo, há décadas, criou uma família de bonecos para testes considerando os diversos perfis de ocupantes. Um boneco que representa uma mulher, uma família que representa uma mulher grávida, bonecos que representam crianças, bebês, adolescentes. São detalhes que vão sendo construídos ao longo dos anos.

Como  a Volvo vê o segmento de blindagem? A gente identificou uma característica do mercado brasileiro. A gente entendeu que outros mercados do mundo estão começando a apresentar algum tipo de necessidade para veículos blindados. Isso fez com que a Volvo desenvolvesse uma iniciativa de engenharia bastante grande, trabalhamos por volta de dois anos nisso. Foram investidas mais de 9.000 horas de engenharia e a gente criou uma solução de veículo blindado para o Brasil. Desde o começo deste ano, a gente já fornece para todas as nossas SUVs no Brasil uma solução de blindagem certificada por órgão da Alemanha. Essa solução foi escolhida para ser a solução mundial de blindagem leve de Volvo. A partir de setembro, outubro, a gente vai iniciar o processo de exportação de blindados daqui do Brasil. A Volvo definiu dois polos. Na Alemanha, já se produz um blindado pesado, que é um veículo voltado para chefes de Estado, pessoas que têm um altíssimo nível de proteção,  e para todos os demais que procuram uma  blindagem leve, os serviços serão feitos no Brasil e exportados para o mundo todo.

China é o maior mercado da Volvo fora da Europa. Como estão as expectativas para esse mercado? É quase o nosso mercado doméstico. A Volvo pertence a um grupo chinês. China, Estados Unidos e Suécia são os três mercados mais importantes. Os produtos têm uma aceitação enorme da China. As iniciativas de veículos híbridos e agora de elétricos têm uma aceitação imensa no mercado chinês. Mesmo com a Covid-19 na China, a gente teve uma recuperação super rápida lá. Depois de uns dois, três meses bastante ruins, os níveis de venda praticamente voltaram aos níveis anteriores. A expectativa para a China é muito boa para a Volvo nos próximos anos. 

Esse controle oriental trouxe que tipo de modificação na cultura da Volvo? A gente pertence à Geely desde 2011 e nunca na nossa história a gente foi tão independente. A Volvo nasceu em 1927, pertenceu ao Grupo Volvo até o ano 2000. Do ano 2000 até 2010, pertencemos à Ford. A gente era uma divisão pequena dentro de um grande universo. Quando a gente foi adquirido pelo mesmo acionista que é dono da Geely, a gente acabou pela primeira vez sendo extremamente independente. A Volvo passou a ser responsável pelas suas decisões e pelo seu futuro. Algo que trouxe de muito importante também foi o fato de que a gente teve um investimento muito grande em pesquisa e desenvolvimento para novos produtos. A Volvo foi adquirida na época por US$ 1,7 bilhão mais ou menos e, ao mesmo tempo, foi anunciado investimento de outros US$ 11 bilhões. O primeiro grande desenvolvimento nessa nova era foi a plataforma que equipa toda a nossa linha C 190. Só essa plataforma consumiu US$ 1 bilhão em investimento. Isso fez com que a gente desenvolvesse e lançasse tantas coisas e atingisse a posição que temos hoje de mercado. Em termos de cultura, a principal coisa que o novo controle acionário trouxe para a gente foi a cultura da independência, da liberdade criativa e, ao mesmo tempo, saber que somos responsáveis pelo nosso futuro.

Quais os últimos lançamentos de modelos híbridos ou híbridos plug-in no Brasil e qual a colaboração da Volvo para oferecer uma infraestrutura que garanta ao consumidor a recarga das baterias? Hoje, no Brasil, a gente já tem uma versão híbrida. A gente completou essa etapa de dar a opção de eletrificação ao cliente. A gente começou com C 190, trouxe para a linha C 60. O último grande lançamento foi no XC 40. Esses produtos, no primeiro semestre, representaram 49,9% das vendas da Volvo no Brasil. A aceitação é enorme. Um dos principais investimentos foi no desenvolvimento da infraestrutura de carregamento no Brasil. Quando a gente começou a olhar para o mercado de carregadores, há mais ou menos um ano e meio, existiam no Brasil menos de 100 carregadores em locais públicos. Em vários países, o governo investiu nessa solução. No Brasil, a gente sabe que é carente de várias outras infraestruturas mais básicas. A gente tomou a responsabilidade de fazer esse desenvolvimento. De um ano e meio para cá, a Volvo já investiu na instalação de praticamente 500 carregadores. É a merca que mais colocou eletropostos no Brasil. A gente vai fechar o ano com mais ou menos 560. Até o final do primeiro semestre do ano que vem, a Volvo vai complementar a instalação de mil carregadores no Brasil. Se a gente olhar no ano passado, por exemplo, nos Estados Unidos, a Tesla, que a precursora do serviço no país, ainda não tinha mil carregadores instalados. No Estado de Minas Gerais, a gente já tem, dos quase 500 carregadores instalados no país, aproximdamente 20. Com certeza, vamos ter Minas bem contemplada. A gente se pauta por parceiros que têm nos dado bastante capilaridade, onde o cliente costuma deixar o carro parado por algum tempo. Cargas são relativamente rápidas. Um híbrido da Volvo, por exemplo, em duas horas, duas e meia você carrega a bateria por completo. Vamos chegar no final do ano a 4.000 veículos híbridos vendidos no Brasil. Hoje, a Volvo é responsável por 15% das vendas de híbridos da indústria automotiva do país, não só de híbridos. 

Qual a ideia para o futuro do percentual de carros híbridos no total produzido pela Volvo? Em nível nacional, a partir do segundo trimestre do ano que vem, já complementamos a transformação da nossa linha e passamos a oferecer apenas veículos eletrificados no Brasil. Então, 100% das nossas vendas serão de híbridos ou de elétricos. Mundialmente, vamos atingir, em 2025, a eletrificação completa, sendo que 50% serão de veículos 100% elétricos e a outra metade  de híbridos eletrificados. 

Serão mais caros do que o veículo tradicional? Aqui no Brsil a gente tem incentivo fiscal para a importação desses produtos. O imposto de importação tem uma redução, o que faz com que parte do custo extra da tecnologia seja mitigado. 

Na medida em que a demanda vai aumentado, vocês pensam em ter uma fábrica no Brasil? O Brasil é um mercado que sempre a Volvo vai olhar para tentar investigar essa possbilidade. Mas o que sempre digo nesse aspecto é que a estratégia de implantação de uma fábrica em um país nunca é um fator isolado, ou por mercado interno muito grande para aquela marca, por incentivo fiscal ou programa de desenvolvimetno local. Aliado a isso, a gente precisa ter um certo grau de conexão dessa planta com a  infraestrutura global de manufatura da marca. O Brasil precisa encontrar, de fato, é a sua posição como integração de cadeias globais de manufatura e de comércio exterior. Prejudica um pouco o país ter um imposto de importação elevadíssimo. Acaba tornando nossa economia mais fechada e dificultando que fábricas que estão aqui se conectem com outras plantas no mundo. 

O imposto de imporação de 35% afeta de alguma forma a Volvo e o setor? A Volvo em migrado muito para a eletrificação e esse outro perfil de produto ainda tem uma situação mais favorável. No geral, as importadoras para o Brasil vivem situação complicada. A gente tem 35% de imposto, mas 75% dos produtos que são importados vêm de zonas com tratamento diferenciado, Mercosul ou o México. Somente 25% das importações vêm de zonas que pagam 35% de imposto. É uma penalização em poucas marcas, pouco volume de produto e acaba não fazendo muito sentido, dificultando trazer uma variedade maior para o Brasil. Esses produtos são 3% do volume de carros vendidos no Brasil. A Abeifa defende que esse imposto seja revisto para pelo menso 20%, que é a tarifa externa do Mercosul.

A ida da Volvo para os híbridos é para atender as diretrizes internacionas que visam reduzir o uso de substâncias nocivas e restritas? A ida para os híbridos tem muito a ver com as questões ambientais que foram estabelecidos no Acordo de Paris, para que as emissões sejam controladas cada vez mais, evitando o aquecimento global. Substâncias controladas é algo que a Volvo leva muito a sério, inclusive a forma como são fornecidas. Temos um cuidado muito grande na nossa cadeia de forncecimento para rastrear o impacto social e ambiental. A gente controla isso de perto.

A Volvo oferece veículos blindados da fábrica? Eles não saem da fábrica blindados. Eles chegam ao Brasil e passam pelo processo de blindagem. 

Como o está o programa Volvo For All? Fomos os pioneiros na oferta de veículos importados para as pessoas com deficiência. Das nossas vendas mensais, aproximadamente uns 5%, 6% são veículos PCD, algo que a gente se orgulha bastante. Em todo concessionário Volvo estamos aptos a oferecer esses veículos com isenção de IPI porque a Volvo não vende no Brasil nenhum veículo abaixo de R$ 70 mil. Assim não temos isenção de ICMS.

A controladora da Volvo na China está investindo num sistema de satélites, controle e orientação. Significa que a Volvo vai investir em carros autônomos? Carros autônomos definitivamente a gente tem um desenvolvimento bastante grande. A gente deve vir ao mercado com um veículo desse tipo em breve. a próxima geração do XC 90 deve ter um modo de condução 100% autônoma em rodovias. Está em estágio de desenvolvimento. Só em uma unidade que desenvolve software para veículos autônomos temos mais de 1.500 engenheiros trabalhando nesse projeto. E trabalhamos em hardware também.

Qual a a preocupação da Volvo nas fábricas com relação a enegia renovável? Todas as nossas fábricas já operam com energia renovável e já estamos em 80% de mitigação do nosso impacto industrial. A gente tem diversas soluções implementadas. Só na fábrica de Gent, na Bélgica, a Volvo instalou 15 mil painéis solares para gerar energia para a própria fábrica e se abastecer somente de energia limpa e ser autossustenável. 

 



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