Os veículos são responsáveis por quase 30% das emissões de dióxido de carbono na União Europeia. Número que explica a rigidez da Comissão Europeia, no que concerne à substituição de veículos a combustão por veículos elétricos, inserida na estratégia de descarbonização a 2050.

Mas serão os veículos elétricos realmente mais ecológicos? Afinal, as baterias que utilizam são tudo menos ecológicas. Os dados obtidos por Bruxelas e pela associação do setor, a Transport & Environment (T&E) indicam que sim. Mas depende muito do tipo de energia utilizado (atualmente só uma pequena parte vem de energias renováveis) para abastecer a viatura.

A T&E criou uma ferramenta que analisa as emissões de cada viatura. E chegou à conclusão de que, no pior dos cenários, um carro elétrico, com uma bateria produzida na China e a circular na Polónia, ainda emite menos 22% de CO2 que uma viatura movida a diesel e menos 28% no caso de um motor a gasolina. Do lado oposto – o melhor cenário -, a viatura utiliza uma bateria produzida na Suécia e é utilizada nesse país. Nesse caso, os números são impressionantes: menos 80% de CO2 que o diesel e menos 81% do que a gasolina.

Significa isto que os diesel vão desaparecer? Talvez. Mas não para já. Porque não estão reunidas todas as condições necessárias para o domínio do elétrico. Por um lado, não há uma rede europeia de postos de abastecimento. A ACEA – European Automobile Manufacturer’s Association apela à União Europeia que defina como meta a criação de uma rede com um milhão de postos de abastecimento até 2024 e de três milhões até 2029.

Enquanto esse dia não chega, em que apenas circularão veículos elétricos na Europa – e quiçá no mundo – há alternativas intermédias, nomeadamente os veículos híbridos. Aqui há duas possibilidades. Os híbridos “normais” cuja bateria é carregada à medida que a viatura circula, e os híbridos plug-in, que têm como que dois motores (na verdade é um motor a combustão e uma bateria). Ou seja, têm duas formas independentes de utilização. É verdade que isso implica um aumento de peso, mas, desde que utilizados da forma correta podem ser uma boa alternativa, principalmente em deslocações mais curtas.

Ainda assim, a Volvo acaba de anunciar que até 2030 será um fabricante de exclusivamente veículos elétricos. Uma das primeiras medidas passa por, até 2025, reduzir, em 40%, a pegada de carbono associada a cada modelo, reduzindo 50% das emissões de escape, 25% ao nível das matérias-primas e fornecedores e 25% no total das operações logísticas.

A motivação fiscal

Existem diversas alternativas no mercado. Gasolina, diesel, híbrido, híbrido plug-in, elétrico. E qual é a primeira opção dos consumidores? Aquiles Pinto, relações públicas da Sociedade Comercial C. Santos, refere que, apesar de a consciência ambiental dos consumidores, particulares e empresas ser cada vez maior, “a realidade é que a grande motivação de compra dos plug-in e elétricos é fiscal”. No entanto acrescenta que “a procura de soluções mais ecológicas não é um exclusivo dos modelos eletrificados, mas de todos os automóveis. Isto é, também quem adquire viaturas com motorização tradicional a combustão (gasolina e diesel) tem sensibilidade crescente à redução de emissões e consumos de combustível das viaturas”.

Já a Renault aponta que, no ano passado, o mercado automóvel teve uma quebra de 35% (óbvia consequência da pandemia), mas que, no entanto, quer os veículos elétricos quer os eletrificados tiveram “um crescimento significativo face ao ano anterior”. A explicação, para a marca, está na crescente integração da pegada ecológica, a que se junta o facto de que “estes automóveis são competitivos do ponto de vista do custo de aquisição, e têm óbvias vantagens do ponto de vista do custo de utilização o que, por exemplo, para as empresas é um dado fundamental para a aquisição/renovação de uma frota”.

45Minutos

Atualmente, o tempo médio para se fazer o carregamento de 70% da bateria de um veículo elétrico é 45 minutos.

Aquiles Pinto sublinha que as empresas têm vantagens fiscais na aquisição de viaturas híbridas plug-in e 100% elétricas. “A dedutibilidade do IVA e a tributação autónoma mais baixa (há isenção nas viaturas 100% elétricas e uma redução das taxas para metade no caso dos híbridos plug-in com autonomia elétrica superior a 50 km) são exemplo disso”, refere.

Quando se fala do parque automóvel nacional é importante analisar não só as aquisições dos consumidores e as frotas das empresas, mas, também, as frotas das rent-a-car. Atualmente, segundo Joaquim Robalo de Almeida, secretário-geral da ARAC – Associação dos Industriais de Aluguer de Automóveis sem Condutor, existem cerca de 200 carros elétricos a circular, com a perspetiva de que, nos próximos 10 anos, “a frota de rent-a-car possa ser composta maioritariamente por veículos elétricos”. No entanto, isso estará dependente, alerta, de três fatores essenciais para o incremento de veículos elétricos: autonomia dos veículos, número de postos de carregamento, e tempo de carregamento do veículo (atualmente cerca de 45 minutos para uma carga de 70% da bateria do veículo).

As metas de Bruxelas

A Comissão Europeia definiu as metas, os fabricantes estão a corresponder e os consumidores mostram-se abertos à mudança, o que se nota nas vendas. A Renault, por exemplo, refere que os automóveis elétricos representaram, em 2020, um pouco mais de 6% das vendas totais da marca. Os automóveis eletrificados (híbridos e híbridos plug-in) cerca de 3% ressalvando que a sua comercialização decorreu apenas no último quadrimestre do ano transato. Segundo dados da ACEA as vendas em 2020 foram constituídas por 47,5% de veículos a gasolina, 28% de veículos a diesel, 11,9% híbridos elétricos e recarregáveis, 10,5% elétricos e outras energias 2,1%. “No que respeita ao nosso país, também as vendas de elétricos e híbridos plug-in atingiram em 2020 valores nunca imaginados”, refere Joaquim Robalo de Almeida.

10,5%Vendas

Em 2020, 10,5% dos veículos vendidos em Portugal foram elétricos. Por sua vez, os híbridos elétricos representaram 11,9% das vendas. O

No entanto, embora a Europa caminhe para uma solução 100% elétrica ainda está muito longe de o conseguir. Embora reconheça essa tendência, a Renault refere que a oferta de automóveis a combustão irá permanecer até porque, também este tipo de motorizações tem vindo a evoluir de forma significativa quer no sentido de um impacto ambiental cada vez menor quer na diminuição dos custos de utilização a eles associado. Opinião partilhada por Aquiles Pinto que lembra que os motores a combustão são, atualmente, muito mais “limpos” do que há uns anos. O problema em Portugal, acrescenta, prende-se com a antiguidade do parque automóvel. Para este executivo seria importante o estabelecimento de medidas de incentivo à renovação, nomeadamente com ações de incentivo ao abate de veículo em fim de vida, isto seria importante. “Isto porque não há capacidade de produção de viaturas eletrificadas para substituir todo o parque circulante, pelo que seria mais pragmático, em paralelo com as medidas de eletrificação, tomarmos medidas de apoio à retirada de circulação das viaturas mais antigas e poluentes, substituindo-as pelas versões atuais dos motores de combustão, incomparavelmente menos poluentes”. Uma solução que, por um lado, está ajustada ao cenário atual, em que não existe uma rede nacional de postos de abastecimento, mas, também, que se adequa à capacidade das viaturas e à carteira dos portugueses. “Os resultados práticos seriam muito mais rápidos, ao nível da emissão de CO2, do que nos concentrarmos numa única solução, que não tem oferta suficiente disponível, quer ao nível da produção, quer do posterior abastecimento.”

Uma rede de carregamento

É certo que o sonho de qualquer proprietário é ter uma viatura elétrica com maior capacidade. Mas isso seria facilmente ultrapassado se houvesse uma rede nacional (e até europeia) de postos de carregamento e se o tempo de carga diminuísse substancialmente.

“Os vários países não dispõem atualmente de energia elétrica suficiente para abastecimento de um parque automóvel exclusivamente elétrico”, refere Joaquim Robalo de Almeida. O que, automaticamente, condiciona a adesão da utilização, quer por parte das empresas, quer por parte dos indivíduos, nomeadamente os turistas. “Um turista que pretende visitar vários locais do nosso país e está limitado a um período de permanência no país, não poderá estar limitado de forma drástica no que respeita ao abastecimento/carregamento do veículo, caso contrário o referido turista passará o tempo a ‘carregar’ o veículo em vez de visitar o país, deixando neste caso o veículo de ser um meio de mobilidade por excelência”, constata.

E isto está a condicionar a evolução da adoção das viaturas 100% elétricas. Estas “não serão uma opção para substituição de todo o parque automóvel nos próximos anos a nível mundial, mas o seu crescimento será uma realidade crescente nos próximos anos, sobretudo nas cidades, as quais irão estabelecer de forma sucessiva restrições à circulação de veículos movidos exclusivamente a combustão, isto é movidos com combustíveis fosseis”.



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