A somar à compra de 2,9 GW de projetos de energia solar fotovoltaica em Espanha, por 2,2 mil milhões de euros, e ao recente investimento de 20 milhões de euros na plataforma Energy Impact Partners (EIP) “para reforçar o objetivo de acelerar a transição para um futuro energético sustentável”, a Galp quer também pôr os veículos elétricos a vender eletricidade à rede. Em troca promete uma poupança na fatura de energia e um retorno financeiro de “milhares de euros por veículo, por ano”, pela prestação de serviços à rede elétrica.

A tecnologia chama-se Vehicle-to-Grid (V2G) e está já a ser testada no terreno, num projeto-piloto nos Açores liderado pela Galp, e em parceria com a Nissan, a Eletricidade dos Açores (EDA), a Nuvve (fornecedores de tecnologia de carregamento), a MagnumCap (software de gestão de sistemas de mobilidade elétrica), a Direção Geral de Energia e Geologia, a Direção Regional de Energia dos Açores e a Entidade Reguladora dos Serviços Enegéticos. Em curso na ilha de São Miguel desde abril, este projeto está a testar uma frota de 10 veículos elétricos — Nissan LEAF e e-NV200 — da frota da Eletricidade dos Açores e já permitiu injetar na rede energia equivalente ao consumo médio de 15 casas por dia. O piloto vai decorrer até 2021.

Assente numa lógica descentralizada, com postos de carregamento bidirecionais, na prática a tecnologia V2G permite que um carro elétrico carregue a sua bateria ou, em alternativa, que descarregue essa mesma bateria para fornecer energia à rede elétrica. “A grande vantagem tem a ver com a otimização de custos e de consumos. Quem tem o carro carregado pode monetizar essa carga, vendendo à rede quando essa energia é valorizada e indo buscar carregamento em horas em que a energia é mais barata. Isto já se faz em projetos-piloto noutras geografias, nomeadamente em Copenhaga, onde se chegam a valores simpáticos, de milhares de euros por veículo, por ano”, disse Jorge Fernandes, diretor de Inovação da Galp, em declarações ao ECO/Capital Verde.

Além de testar o modelo financeiro da tecnologia, de acordo com a Galp a realização deste piloto — o primeiro a decorrer em Portugal com uma escala de nível europeu — irá contribui para a “criação de um enquadramento legal que permita passar para uma fase de mercado num curto espaço de tempo, abrindo assim portas a novos modelos de negócio e novas abordagens para o mercado elétrico nacional”. Daí a presença DGEG e da ERSE neste projeto-piloto. “Neste momento estamos num vazio regulatório em relação à venda de energia do carro à rede. A DGEG e a ERSE estão a participar no projeto para tirarem os seus ensinamentos e poderem regulamentar para que a tecnologia possa depois ser escalada”, disse o diretor de Inovação da Galp.

Adicionalmente, refere a petrolífera, esta tecnologia pode também contribuir para uma maior penetração de energias renováveis, permitindo o carregamento da bateria do veículo elétrico durante o período noturno, e assim aproveitando excedentes de energia eólica.Vendo a eletricidade quando não preciso dela para circular de carro e sou compensado por isso. É olhar para o sistema de forma bidirecional e não apenas no sentido de carregar a bateria para depois gastar quando está em movimento. Estamos a fazer este projeto pioneiro em Portugal para contabilizar qual é o valor criado para os consumidores”, explica Jorge Fernandes.

A solução é válida para veículos privados ou frotas de empresas. Lá fora, os ganhos desta tecnologia chegam a alcançar alguns milhares de euros por ano, por veículo. “Para um privado que invista muito num carro elétrico, alguns milhares de euros ao fim do ano pode não ser tão relevante, mas para um operador de frota já significa uma redução dos custos operacionais. Há cenários e estimativas, mas têm de ser validadas. Quanto mais tempo um carro estiver a vender energia à rede mais ganha. Estamos a estabelecer métricas unitárias, por KW, por hora, por ganho total. Queremos acrescentar isto ao nosso leque de soluções na oferta para a mobilidade elétrica”, diz o responsável. Neste momento, a grande aposta da Galp neste setor passa pelo reforço da rede de carregamento elétrico.

Em junho, a Galp passou a disponibilizar uma oferta de energia elétrica renovável aos seus clientes, através dos acordos de compra celebrados com espanhola X-Elio, tendo esta energia origem em parques solares de 200 MW em Espanha. Estes acordos cobrem o equivalente a 358 GWh/ano por 12 anos, o suficiente para abastecer 140 mil casas com uma redução anual de 19 mil toneladas de emissões de CO2. No final do primeiro semestre, a capacidade instalada de geração renovável da Galp era de 12 MW, relativos a um parque eólico onde a empresa detém uma participação através da Ventinveste (51,5%). Até o momento, a empresa ão possui capacidade instalada de energia solar fotovoltaica em operação, no entanto há alguns projetos em desenvolvimento.

No que diz respeito à Inovação, Jorge Fernandes refere que o objetivo da Galp é que seja centrada na resolução de problemas reais do utilizador e consumidor. “Temo grandes projetos, como o hidrogénio verde, estamos a olhar para ofertas complementares à nossa aposta nas renováveis, temos um leque de opções, virado para a transição, energética, economia circular e mobilidade de baixo carbono, para lá da energia. Em breve teremos mais coisas para anunciar”, rematou.

Para depois do verão ficou a promessa de novidades no que diz respeito à divisão de Novos Negócios da petrolífera: “Os novos negócios que estamos prestes a anunciar, a aposta nas renováveis, as aquisições para temos competências no solar, faz tudo parte da aceleração da nossa transição enquanto empresa. Os anúncios recentes e os que estão na calha são exemplo disso. É a nossa forma de contribuir para a descarbonização da economia, do sistema energético e da mobilidade. Este piloto é mais um contributo nessa direção”.

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