Lembra daquele Renault Megane que fez sucesso no Brasil nos 2000, teve carrocerias hatch, sedã e perua e chegou até a ser produzido no Paraná? Esqueça.

No segundo semestre deste ano o icônico nome Megane estará de volta, mas de uma forma completamente diferente: uma espécie de SUV, elétrico, supermoderno e recheado de tecnologias. E Autoesporte foi até a belíssima Marbella, no sul da Espanha, para dirigi-lo em primeira mão.

Antes de contar como o novo Megane (que, na Europa, vai conviver com o anterior) se saiu nas ruas e estradinhas espanholas, vale dizer que essa geração começou a ganhar forma em 2020 com o lançamento do conceito eVision, um crossover elétrico feito sobre a inédita e modular plataforma CMF-EV.

A plataforma CMF-EV permite abrigar um ou dois motores elétricos; pack da bateria tem 110 mm de espessura — Foto: Divulgação

A moderna arquitetura da aliança formada por Renault, Nissan e Mitsubishi é exclusivamente dedicada a veículos movidos por bateria e permite diversas configurações de carroceria, trem de força e, claro, tecnologia embarcada.

No caso do Megane, a Renault optou por um shape de hatch anabolizado, mas com porte de SUV compacto e espaço de médio.

Isso porque são “só” 4,20 metros de comprimento (menor que um Jeep Renegade) e 2,68 m de entre-eixos (4 cm a mais que o Toyota Corolla Cross, por exemplo), além de 1,77 m de largura e 1,50 de altura.

No campo visual, o carro elétrico estreia a nova linguagem de design da Renault chamada de sensual tech.

A marca acredita que as formas sensuais e arredondadas dos ombros da carroceria, os para-lamas recortados em torno dos faróis e o capô recurvado conferem robustez e personalidade ao Megane.

Renault Megane E-tech Electric gera 217 cv na versão Iconic — Foto: Divulgação

Isso acontece parcialmente. O SUV se destaca na multidão especialmente pela dianteira, com seus faróis full-LED e as luzes diurnas de LED (DRLs) que parecem “escorrer” no para-choque — não há faróis de neblina em nenhuma versão.

Outro elemento é o Nouvel R, novo logotipo da marca que faz sua estreia em carros comerciais no Megane: está estampado na grade frontal fechada, que cria uma superfície lisa.

E, como você pode ver no carro das fotos, há uma lâmina que integra os para-choques dianteiro e traseiro e as saídas de ar — que, nesse caso, são da cor dourada Titanium, mas existem outras combinações.

O Megane é o primeiro a receber o novo logotipo — Foto: Divulgação

No perfil, as maçanetas embutidas dão a sensação de que estou entrando em um esportivo premium. Quando o motorista se aproxima para abrir a porta — ou quando o veículo é destravado com a chave-cartão —, as maçanetas “aparecem” automaticamente, por meio de um sistema elétrico. Muito chique. Vale mencionar ainda o bonito desenho das rodas de 20 polegadas. Isso mesmo, aro 20.

No liso asfalto das estradas europeias, nenhum incômodo para os ocupantes. Veremos nas esburacadas ruas brasileiras…

Já a traseira não tem design muito inspirado, mas vários microfilamentos ópticos recortados a laser formam duas faixas e criam um efeito 3D difuso nas lanternas, que poderiam ser maiores.

Na parte inferior do para-choque há a mesma lâmina dourada da dianteira, diferenciando o Megane. Ao todo, são mais de 30 combinações de cores.

Parte inferior do para-choque utiliza a mesma lâmina dourada da dianteira — Foto: Divulgação

Mas chega de falar do visual do Renault. Hora de dirigir! Hora de colocar o singular motor elétrico de 160 kW — cerca de 217 cv — para funcionar (na Europa existe uma versão com 96 kW, aproximadamente 130 cv). Para o Brasil, no entanto, o Megane deve vir em versão única, Iconic, a mais potente.

Só que não são os 217 cv que impressionam e, sim, os 30,6 kgfm de torque. Como estão disponíveis na sua totalidade ao se pressionar o acelerador, o SUV elétrico não tem dificuldades para movimentar seus mais de 1.600 kg.

Mesmo com essa massa, o Megane tem desempenho próximo ao de um VW Golf GTI: vai de zero a 100 km/h em 7,4 segundos — só 0,4 s a mais que o hot hatch. A velocidade máxima é limitada a 160 km/h.

Renault Megane E-tech Electric – 470 km e 7,4 s Autonomia relevante e zero a 100 km/h de carro esportivo — Foto: Divulgação

O Megane, por sua vez, está longe de ser um carro para correr. A ótima dirigibilidade era o convite para aproveitar o passeio a bordo do Renault. E a bela Marbella (desculpe, não resisti), cidade litorânea no sul da Espanha, fazia o cenário ideal.

O SUV flanou nas lisas rodovidas, serpenteou nas apertadas estradinhas interioranas e passou silenciosamente pelo inesperado trânsito do luxuoso balneário.

O carro se mostrou bem construído, sólido, sem rolagens preocupantes da carroceria — o centro de gravidade é baixo devido às baterias instaladas no assoalho.

A direção elétrica é bem responsiva e passa muita segurança para quem vai ao volante; tem peso certo em altas velocidades e fica mais leve (porém, não anestesiada) no dia a dia na cidade ou nas manobras.

Falando em volante, vale destacar que a peça tem o desenho muito moderno, bastante ergonômico, agrega alguns comandos e traz o novo logotipo da Renault centralizado.

Renault Megane E-tech Electric carrega duas telas de 12″, uma delas é verticalizada — Foto: Divulgação

Para não dizer que o Megane não faz nenhum barulho, há um sistema de alerta externo que avisa os pedestres da presença do carro. O recurso é ativado entre velocidades de 0 e 30 km/h.

É o som de uma “nave espacial” igual ao do Zoe, por exemplo? Sim, mas no Megane o tom é mais baixo e estão disponíveis três, digamos, intensidades: Neutro (som natural do veículo e discreto na cabine), Puro (som icônico da Renault, porém mais leve) e Expressivo (som mais intenso tanto dentro como fora do veículo).

Renault Megane E-tech Electric roda até 470 km com uma recarga pelo ciclo WLTP — Foto: Divulgação

E quanto roda o Megane?
Bom, o SUV tem baterias de 40 kWh e 60 kWh fornecidas pela LG — a de maior capacidade deve ser a escolhida para o Brasil.

Pesam cerca de 400 kg, são feitas de Níquel, Cobalto e Manganês e compostas de 12 módulos e 24 células, distribuídas em duas camadas — a Renault fala em apenas 110 mm de espessura da bateria e até 470 km de autonomia no ciclo WLTP, o mais usado no mundo (dá para ir de São Paulo ao Rio de Janeiro sem precisar carregar).

Aliás, a recarga pode demorar mais de 30 horas em uma tomada convencional (110V), 18 horas em uma de 220V ou encher 300 km em 30 minutos em um carregador rápido, de 130 kW.

O interior é primoroso, bem–acabado e com painel digital tecnológico — Foto: Divulgação

Se por fora o Megane é moderninho, por dentro é melhor ainda. A começar pelas duas telas: uma de 12,3 polegadas, do painel de instrumentos digital completamente configurável, com grafismos hi-tech; outra de 12″, da central Open R, com sistema operacional Android, da Google.

O multimídia é verticalizado, com interface jovem e muito fácil de mexer, intuitiva. Logo abaixo, alguns botões em formato de teclas, do sistema de ventilação e pisca-alerta, e carregamento de smartphone por indução. Tudo bem minimalista e de bom gosto.

Sem falar no acabamento do interior, que em nada lembra os Renault vendidos no Brasil. Para ter uma ideia, a moldura superior dos painéis das portas é ornada com madeira legítima, chamada Nuo, na versão topo de linha.

O encosto e o assento dos bancos dianteiro e traseiro são forrados com couro e os porta-objetos nos painéis das portas, com carpete. Todos os revestimentos têxteis são produzidos com materiais 100% reciclados. Um carro vegano.

Apesar dos 4,21 m de comprimento, os 2,70 m de entre-eixos garantem um bom espaço para as pernas dos ocupantes do banco traseiro — Foto: Divulgação

No tópico equipamentos, a versão mais cara do Megane, que parte de 45 mil euros na Europa (por aqui estimamos que o SUV chegue na faixa de R$ 300 mil), traz desde estacionamento autônomo, câmera 360 graus e frenagem automática de emergência até alertas de mudança involuntária de faixa de rodagem (com correções no volante) e de ponto cego.

Também tem controle de cruzeiro adaptativo e o Occupant Safe Exit (OSE), que, quando o ocupante abre a porta para sair, emite um alerta visual e sonoro caso haja uma moto, um veículo ou até um cliclista se aproximando, a fim de evitar a famosa “portada”.

Confesso que foi difícil achar algum detalhe no Megane E-Tech Electric para criticar. O SUV é muito diferente de tudo o que já pude experimentar de Renault até hoje. Mas eu achei.

Mesmo sendo um carro moderno e tecnológico, há uma semelhança com os atuais modelos vendidos no Brasil: o famigerado comando satélite na caixa de direção.

A marca francesa insiste na alavanquinha com botões para atender/desligar chamadas de telefone, aumentar/diminuir volume e trocar a música do sistema multimídia — poderia estar tudo no volante.

Despeço-me da apaixonante Marbella com a sensação de que a história de quase 30 anos da Renault no Brasil está prestes a mudar.

Depois de começar com os importados Clio, Scénic e o próprio Megane, a marca se consolidou com a produção nacional e o grande volume de vendas graças aos carros da Dacia, subsidiária romena que produz para mercados emergentes os conhecidos Sandero, Duster, Logan e por aí vai.

Com a nova promessa de buscar valor agregado (e não tanto quantidade), a Renault vai inaugurar uma nova fase no Brasil, e o Megane é uma belíssima vitrine para mudar a imagem da fabricante, que terá mais carros europeus rodando por aqui nos próximos anos. Porém, antes disso ainda teremos o Kwid elétrico…

Passado e futuro: No final de 2020, a Renault antecipou a nova geração do Megane com o protótipo batizado de eVision e afirmou que 95% do conceito seria o carro final. E mudou pouca coisa mesmo — Foto: Divulgação

Renault Megane E-tech Electric

Ficha técnica
Preço: 45 mil euros
Motor: Um motor no eixo dianteiro, síncrono, elétrico
Potência: 217 cv
Torque: 30,6 kgfm
Câmbio: Automático, uma marcha, tração dianteira
Direção: Elétrica
Suspensão: Indep. McPherson (diant.) e multilink (tras.)
Freios: Discos ventilados (diant.) e sólidos (tras.)
Pneus: 215/55 R20
Autonomia: Até 470 km
Porta-malas: 440 litros (fabricante)
Peso: 1.636 kg
Central multimídia: 12 polegadas, sensível ao toque, Apple CarPlay e Android Auto
DIMENSÕES
Comprimento: 4,21 metros
Largura: 1,78 m
Altura: 1,50 m
Entre-eixos: 2,70 m

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