Você viu aqui há alguns meses atrás nosso primeiro contato com Renault Kwid E-Tech, um dos carros elétricos mais baratos do Brasil. Na ocasião o test-drive foi em um kartódromo em São Paulo. Agora, quatro meses e um aumento de preço depois, chega a hora de experimentar o Kwid elétrico em situação real: no dia a dia.

Antes de contar como o subcompacto elétrico se comporta nada cidade vamos a algumas informações. O primeiro lote de 750 unidades esgotou desde a pré-venda e a Renault tenta trazer mais carros até o final do ano. São Paulo foi o estado com mais pedidos: 173 carros, seguido de Minas Gerais (82) e Paraná (74). Na outra ponta da tabela estão Sergipe (4), Tocantins (3) e Rondônia (2). Somente Acre, Amapá e Roraima não registraram vendas no território brasileiro. A Renault diz que as 280 concessionária da marca no Brasil estão aptas a vender o Kwid elétrico.

Com a demanda foi grande e oferta pequena, claro que o preço já subiu: o Kwid que estreou no último mês de maio por exatos R$ 142.990 atualmente já custa R$ 146.990. Uma surpresa talvez seja o mix de comercialização: 80% para pessoas físicas e 20%, venda direta. No meio do caminho o Renault também perdeu o posto de veículo elétrico mais barato do Brasil. A CAOA Chery colocou à venda o pequenino e rival Icar, por R$ 139.990. Há ainda um terceiro player neste segmento, o JAC E-JS1, de R$ 159.900, que também foi o elétrico mais em conta à venda por aqui.

E-Kwid: Renault Kwid E-Tech traz o nome bem grande logo abaixo do logotipo da Renault na traseira — Foto: Marcelo Machado de Melo/Renault

Agora vamos ao que interessa. De cara, o primeiro “estranhamento”: virar a chave de um Kwid e não sentir a trepidação do motor três cilindros 1.0 aspirado do carro a combustão. Apenas um “Ready” aparece no painel para dizer que o carro está ligado. Em seguida procuro uma alavanca de câmbio e me deparo com um seletor giratório, D (Drive), N (Neutro) e R (ré) – lembra do Ford Fusion? Não é prático e intuitivo, mas também não chega a ser um problema.

Problema mesmo que me traz de volta à realidade e me faz lembrar que estou no subcompacto da Renault é a ergonomia. Sem ajustes do volante e de altura do banco, o motorista fica “refém” na posição de dirigir, que é bem altinha, diga-se. Outro fator em comum com o carro a combustão é o aperto: o Kwid E-Tech tem 3,73 metros de comprimento, 1,77 m de largura, 1,50 m de altura e 2,42 m de entre-eixos. As medidas são mais generosas que a dos rivais, mas nem por isso o Renault deixa de ser apertadinho.

Parto em silêncio e o Kwid E-Tech me surpreende nos primeiros metros. Apesar dos números frios da ficha técnica (65 cv e 11,4 kgfm), o carrinho entrega uma boa dose de aceleração – 0 a 50 km/h em 4,1 segundos – pelo torque entrega de forma instantânea, chegando a até cantar pneu à procura de aderência. A partir daí o carrinho fica mais normal: 0 a 100 km/h em eternos 14,6 segundos (número de carro 1.0 aspirado) e velocidade máxima de 130 km/h.

O Kwid E-Tech é um elétrico estritamente urbano. Não pelo 265 km de autonomia, segundo o Inmetro, que é um bom número para rodar na cidade – e fazer viagens curtinhas – mas sim pelo espaço e (fata) de conforto. É homologado para levar apenas apenas quatro ocupantes. De acordo com a Renault, essa foi a forma de compensar a massa extra de 188 kg da bateria para que o Kwid não ficasse tão pesado. No total, ele tem 977 kg – 150 kg a mais do que carro “normal”.

Renault Kwid E-Tech — Foto: Marcelo Machado de Melo/Renault

No nosso test-drive pelas ruas da capital paulista o torque imediato faz a diferença para sair de enrascadas no trânsito e ganhar velocidade rapidamente. Se você acionar o modo Eco, o panorama muda. A potência fica limitada a 45 cv (20 cv menos) e o Kwid perde toda a pujança.

O intuito, no entanto, é regenerar energia com uma espécie de freio motor, que fica mais forte nesse modo. Não chega a ter o comportamento de um e-pedal, em que você às vezes nem precisa pisar no freio para o carro parar (ele já desacelera bastante ao levar o pé do acelerador), mas a Renault diz que é possível recuperar até 9% da autonomia.

Renault Kwid E-Tech tem alguns itens exclusivos em relação ao carro 1.0 flex — Foto: Divulgação

O que também dá para perceber o ajuste de suspensão, claro, voltado para o conforto, mais macio. Mas o carrinho lida bem com buraqueira. A direção é leve e pouco precisa, porém nada que vá fazer você se sentir inseguro ao volante – que inclusive tem um desenho diferente do 1.0.

E se você espera pagar o dobro de um Kwid a combustão para ter mais equipamentos e melhor acabamento, pode tirar o seu cavalinho da chuva. O E-Tech é recheado de plásticos, tem botões simplórios do ar-condicionado e o multimídia com tela de 7 polegadas é exatamente igual – sem falar nos comandos centralizados no console para abrir o vidros elétricos dianteiros e o famigerado apêndice no volante para mexer na central sem tirar os olhos da estrada (nada prático e confuso). Controle de estabilidade, assistente de partida em rampas, câmera de ré e sensor de estacionamento traseiro são de série para (tentar) justificar os quase R$ 150 mil.

É possível recarregar o elétrico tanto em fontes AC, quanto DC. Em uma tomada de 220V, o carro recupera 80% da bateria, pouco mais de 190 km de autonomia, em cerca de nove horas. Já em um Wallbox de 7 kW, a bateria atinge essa mesma carga em cerca de três horas. Por volta de 40 minutos plugado em uma fonte de recarga rápida DC, o elétrico alcança essa autonomia.

O Renault Kwid é um carro popular elétrico, mas não um carro elétrico popular. Em termos de acabamento e oferta de itens de série, o subcompacto oferece o básico. E, apesar da maior oferta de modelos nessa faixa de preço (dos R$ 150 mil) ainda é um valor muito alto – o dobro de um movido a combustão – pelo o que os carros entregam. A promessa de economia de combustível é um fato, mas demora-se muito para chegar ao equilíbrio custo-benefício. Ou seja, ter um carro elétrico no Brasil ainda é para poucos. E também ainda entrega pouco.

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