O futuro elétrico dos carros é uma realidade inegável, e as principais montadoras do mundo estão investindo bilhões de dólares e euros na produção de veículos a bateria. No entanto, a transição para a propulsão elétrica ainda enfrenta muitos desafios. A falta de infraestrutura, autonomia e a questão da sustentabilidade ambiental são alguns dos obstáculos que precisam ser superados.

Apesar disso, o tamanho do investimento feito na nova tecnologia aponta para um caminho inevitável: o mercado automotivo caminha rumo aos veículos elétricos. Apesar de terem sido investidos bilhões nos modelos puramente a bateria, ainda haverá espaço para os híbridos, principalmente em países com grande extensão territorial, vocação para a produção de biocombustíveis e sem dinheiro para a universalização da infraestrutura de abastecimento.

Contudo, nos países que de fato decidem o futuro do setor automotivo – como o bloco europeu, Estados Unidos e China –, o caminho da eletrificação pura é o que já está sendo trilhado. De acordo com o consultor Ricardo Bacellar, fundador da Bacellar Advisory Boards, essa opção se dá muito mais por necessidade econômica do que por escolha técnica. Parte dessas nações não tem outra saída a não ser eletrificar suas frotas.

China empurra eletrificação por depender do petróleo russo

A China é uma das nações que vem impulsionando a eletrificação de sua frota, já que depende muito do petróleo russo. Já a Europa tem a maior necessidade de eletrificação do mundo, uma vez que não dispõe de terras para produzir biocombustíveis e também não pode ser mais tão dependente de petróleo. Nos Estados Unidos, apesar da estrutura para a produção de biocombustíveis, a eletrificação está sendo defendida tanto pelo governo quanto por suas maiores montadoras.

A Chevrolet já anunciou que a partir de 2035 todos os seus carros serão elétricos, investindo US$ 35 bilhões. Já a Ford anunciou investimentos de mais de US$ 20 bilhões. Grandes indústrias não aplicariam tanto dinheiro se houvesse muita incerteza sobre a viabilidade do setor.

Europa volta atrás em decisão

A União Europeia já havia decidido pela proibição da venda de carros que emitem poluentes a partir de 2035, condenando os híbridos e os modelos 100% a combustão. Mas, por pressão da Alemanha – sede de grandes grupos automotivos –, decidiu voltar atrás: os carros a combustão são aceitos, desde que usem combustíveis sintéticos. Bacellar afirma que a medida tem apenas uma razão: falta de dinheiro.

A falta de dinheiro também é um problema para o Brasil – que apresentaria condições ideais para uma investida elétrica do ponto de vista puramente ambiental. Mas, além disso, o país não tem dinheiro para infraestrutura, como a instalação de pontos de recarga, que chegam a custar em torno de R$ 1 milhão.

Etanol como trunfo brasileiro

O Brasil tem um trunfo: o etanol. O combustível é tão ecofriendly que um híbrido com ele no tanque polui menos do que um 100% elétrico na Europa. Isso porque cerca de 77% das necessidades energéticas do europeu médio são satisfeitas tendo como recurso petróleo, gás e carvão. Diante disso, grupos como Stellantis e Volkswagen defendem a utilização do híbrido flex como principal elemento para a descarbonização no país.

Cássio Pagliarini, da Brigth Consulting, avalia que o futuro do mercado automotivo no Brasil será eclético. Teremos elétricos e híbridos. Enquanto a Ford e a GM apostam nos carros 100% elétricos, outras, como a Toyota, a Hyundai e o grupo Stellantis, não colocam todos os ovos na mesma cesta.

Apesar disso, a preocupação é que, a longo prazo, o Brasil acabe sendo um “cemitério” de motores, já que a maior parte dos investimentos estará direcionada aos 100% elétricos. Por mais que seja grande, nosso mercado não é tão lucrativo a ponto de receber investimentos exclusivos para a atualização de powertrain.

Índia volta-se para o etanol

A Índia, outro mercado de volume, vem voltando seus olhos para o etanol, que já é aplicado em parte da sua gasolina. Se a iniciativa se fortalecer, deve ser reproduzida em outros países da Ásia, fortalecendo a posição do Brasil.

O futuro do mercado automotivo caminha rumo aos veículos elétricos, mas a transição não será rápida nem fácil. A falta de infraestrutura e investimentos são as principais barreiras a serem superadas, mas a necessidade econômica das maiores nações do mundo parece indicar um caminho inevitável. Enquanto alguns países conseguem aproveitar de suas próprias riquezas, como o Brasil, outros precisam se voltar para soluções que se adequem à sua realidade. A eletrificação dos carros é algo que veio para ficar, mas o desafio é encontrar alternativas viáveis e sustentáveis para todo o mundo.

Fonte: Por que é perda de tempo buscar alternativas contra motores elétricos – 27/04/2023

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