Presente num dos mais concorridos segmentos do mercado, nesta sua terceira geração o Ford Kuga surge com mais argumentos que nunca, dispondo de uma completa gama de motorizações que vão desde os puros motores a gasolina e Diesel até às variantes mild-hybrid e híbridas plug-in.
Agora, depois de já termos posto à prova a variante híbrida plug-in do novo Kuga, chegou a altura de descobrir os argumentos da variante no outro lado do espectro, alimentada exclusivamente a octanas, equipada com o 1.5 EcoBoost de 150 cv.
Será que basta ao Kuga ser simplesmente a combustão, ou é mesmo necessário o auxílio elétrico? Altura de descobrir os seus argumentos.
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Discreto por natureza…
Com o papel de SUV com visual mais aventureiro e robusto entregue ao novíssimo Bronco Sport (cuja vinda para a Europa nem está confirmada), o Ford Kuga adota um estilo bem mais urbano e próximo do típico automóvel.
Assim, o Kuga surge com um visual bastante próximo ao das restantes propostas da marca norte-americana, adotando a tradicional “grelha Ford” enquanto na traseira as semelhanças com a carrinha da gama Focus são evidentes.
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O resultado final é um modelo com um visual sóbrio e algo discreto — menos SUV do que o antecessor —, algo de louvar num segmento em que muitas das propostas “usam e abusam” dos apliques plásticos para transmitir uma ideia de evasão à qual, na maioria das vezes, não conseguem dar seguimento.
… e espaçoso também
Como qualquer SUV deste segmento, o público alvo deste Ford Kuga são as famílias e depois de alguns dias aos comandos do SUV da Ford, trago boas notícias.
Mais largo que o antecessor e com um túnel de transmissão baixo e pouco intrusivo ao qual se associa uns muito bem vindos bancos traseiros deslizantes, parece haver espaço de sobra no interior do novo Ford Kuga.
Assim, facilmente quatro adultos viajam com conforto a bordo do Kuga e tudo isto sem sacrificar a bagagem a transportar. Um ponto a favor do Ford Kuga puramente a combustão é que a bagageira cresce (e muito) face à da versão híbrida plug-in, oferecendo entre 475 e 645 litros, face aos 411 litros da variante que também consome eletrões.
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel
A bagageira oferece entre 475 e 645 litros.
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No que diz respeito aos materiais, o Kuga apresenta uma mistura de uns mais suaves e de toque agradável na metade superior do tablier e portas, e duros em toda a metade inferior onde os olhos e as mãos chegam menos vezes. Apesar disto, está um pouco longe do padrão estabelecido por modelos como o Mazda CX-5 ou Peugeot 3008.
Já a montagem e a ergonomia não merecem reparos, com a segunda a sair beneficiada pelo facto de o interior do Kuga apresentar um design convencional, idêntico ao do Focus que privilegia a facilidade de utilização (se bem que acaba por não ser o mais original).
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Um SUV também pode ser dinâmico
Indo ao encontro de uma imagem que já é de marca na Ford, o Kuga surpreende (ou talvez não) no capítulo dinâmico. Não me interpretes mal, é verdade que os predicados de conforto, previsibilidade e segurança estão todos lá, mas há um outro lado do Kuga que o torna um dos mais interessante de conduzir no segmento.
© Thom V. Esveld / Razão Automóvel
A Ford mantém-se fiel aos comandos físicos e a ergonomia sai a ganhar com essa decisão.
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Com a mesma plataforma e suspensão do Focus, o Kuga surge como uma espécie de variante mais alta do segmento C da Ford, mantendo as mesmas qualidades dinâmicas.
A suspensão controla bem o rolamento da carroçaria, a direção é precisa, (muito) direta e tem um bom feeling — atrevo-me a dizer que a par da do Hyundai Tucson é das melhores do segmento — e tudo isto faz com que o Ford Kuga chegue até a ser… divertido de conduzir.
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O volante tem uma boa pega e os comandos permitem navegar de forma fácil e intuitiva pelo completo computador de bordo (a ergonomia volta a estar em alta, havendo pouquíssimas teclas com dupla função).
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É verdade, o SUV da Ford prova que nem todos os SUV têm de ser “inertes” ou entediantes no capítulo dinâmico e traz para o segmento todas as qualidades tantas vezes elogiadas nos modelos da marca da oval azul.
No meio disto tudo, o “elo mais fraco” são mesmo os pneus de perfil mais alto e focados no conforto (medem 215/65 R17) que acabam por revelar as suas limitações mais cedo. Ainda assim, quando isso acontece, o Kuga mantém a previsibilidade e progressividade nas reações, provando que o chassis é realmente são e bem conseguido.
Já longe das curvas, o Ford Kuga revela-se confortável e, acima de tudo, estável, apresentando-se como um bom companheiro de viagens também “culpa” do bom nível de refinamento que o caracteriza.
Faz sentido um SUV destes com motor a gasolina?
Lembras-te de te ter falado acerca do caráter estradista deste Kuga? Pois bem, nesta versão em particular apenas o motor parece um pouco desfasado dessa imagem.
Progressivo e interessante de usar, nada posso apontar ao 1.5 EcoBoost de 150 cv no que às prestações e desempenho diz respeito. Soa bem quando “puxamos” por ele, empurra o Kuga com vontade e permite prestações bastante aceitáveis (principalmente quando temos em conta de que se trata de um SUV já “grandinho”).
A juntar a tudo isto temos uma caixa manual de seis relações que à falta de melhor palavra é simplesmente “deliciosa” de utilizar. Com um curso curto e um tato metálico, até o punho da manete nos convida a engrenar mudanças, apresentando-se como uma das melhores do segmento (assim de repente só a do Mazda CX-5 se equivale).
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Para além de ter um tato agradável a caixa de velocidades está bem escalonada, conseguindo um bom equilíbrio entre a necessidade de obter bons consumos e boas prestações.
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O problema de tudo isto é que o 1.5 EcoBoost consome… gasolina e por isso mesmo quando nos deixamos entusiasmar por toda a componente dinâmica do Ford Kuga os consumos sobem para lá dos 8 l/100 km, um valor pouco simpático para um modelo familiar.
É verdade que, com calma, se conseguem médias de 5,5 a 6 l/100 km e em percursos interurbanos estas andam perto dos valores anunciados pela Ford (na casa dos 7 l/100 km), mas continuo a achar que, a não ser que se percorram poucos quilómetros, um SUV familiar deste segmento faz mais sentido com motor Diesel ou então com a ajuda de eletrões.
É o carro certo para mim?
Capaz de uma notável relação conforto/comportamento, o Ford Kuga apresenta-se como a escolha certa para quem procura um SUV, mas não quer abdicar do prazer de condução.
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Aos argumentos dinâmicos o Kuga soma ainda características racionais como um espaço habitável muito bom e uma oferta de equipamento já bastante interessante, principalmente quando temos em conta que esta versão Titanium não se trata de uma versão de topo.
Nota ainda para o preço. Por cerca de 32 mil euros a Ford oferece um SUV espaçoso, confortável, dinamicamente competente e razoavelmente bem equipado. Um preço que não difere de outras propostas similares em potência, mas… de um segmento abaixo, ou seja, com menos espaço.
Posto tudo isto, quando equipado com o 1.5 EcoBoost de 150 cv, o Ford Kuga pode muito bem ser o carro ideal para uma família que precise do espaço, mas não de percorrer muitos quilómetros e não queira abdicar de boas prestações.
Já se se tratar de uma família de “papa-léguas” o melhor talvez seja optar pela versão Diesel, mild-hybrid (de momento apenas associada ao 2.0 EcoBlue de 150 cv) ou híbrida plug-in (9000 euros mais cara), todas elas mais “amigas da carteira” na hora de ir até ao posto de abastecimento.