Preciso confessar uma coisa para você, meu caro leitor. Apesar de trabalhar com carros, ser apaixonado por eles e consumir diariamente conteúdo sobre isso, não consigo acompanhar tudo que acontece no mercado de novos.

Por estar mais focado no mercado de usados, ramo em que me especializei, nem sempre um lançamento desperta meu interesse logo de cara. Às vezes leva um tempo para que isso aconteça, e foi o que ocorreu com o Toyota Corolla Hybrid – lançado no segundo semestre do ano passado, mas só agora solicitado por mim para teste.

E foi um longo teste, com quase 1.300 km em apenas dois dias. Antes disso, eu mal tinha lido os materiais de imprensa – algo que vai ficar evidente mais para frente – tampouco tinha entrado em um.

O lado bom disso é que fui com a mente livre das opiniões de terceiros, e pude avaliar o carro apenas com minha visão. Quando já sabemos de algo que foi muito criticado em um modelo, a tendência é propagar ainda mais essa crítica, mesmo que nem seja algo tão ruim.

Por exemplo, a tela da central multimídia do carro me atendeu perfeitamente bem e não tenho nada para criticar. Mas foi só eu postar alguns conteúdos sobre o carro nas redes sociais que alguns seguidores reclamaram da tela que parece uma TV de tubo, do acabamento traseiro e dos botões físicos.

Ora bolas, será que todas essas pessoas já guiaram esse carro para concluírem isso ou estão apenas se baseando na opinião de alguém que fez essa crítica? Vamos ser francos: qual o problema do acabamento que fica atrás da tela? Como isso pode ser mais importante que todo o conjunto tecnológico que a Toyota entrega nesse carro? Quanto aos botões físicos, para mim, quanto mais, melhor.

O mesmo aconteceu com o antigo relógio digital do Corolla, abolido nessa geração. Ele foi duramente criticado, sem nenhuma razão racional para isso, já que um relógio é apenas um relógio, e está lá para informar as horas. Nunca vi problema nisso.

Enfim, entrei no Corollão livre de preconceitos, junto com meu pai e seu sócio, em uma longa viagem para a cidade de Presidente Prudente, no interior de São Paulo. Não demorou para eu perceber que estava em um dos carros mais chatos de todos os tempos, em uma das estradas mais chatas de todo o mundo. Isso porque ambos, carro e estrada, estão tão próximos da perfeição que dão sono.

Se deixar no modo adaptativo do controlador de velocidade, o motorista se sente ainda mais inútil, já que ele freia e acelera sozinho. Dirigir o silencioso, confortável, suave e previsível Corolla nas intermináveis retas das Rodovias Castelo Branco e Raposo Tavares tem que ser na base da cafeína.

Não por acaso, quando os primeiros sintomas do sono apareceram, um sinal sonoro, acompanhado do desenho de uma xícara de café, surgiu no painel. Que carro inteligente!

Paramos para tomar o café e, logo depois, trocamos o motorista. No banco do passageiro, resolvi folhear o manual e o documento do carro. Para minha surpresa, o motor a combustão é 1.8. Pois é, eu disse que não tinha lido nada sobre o carro antes do teste.

A potência total também é modesta: apenas 122 cv, considerando os 101 cv do motor a combustão e os 72 cv dos motores elétricos. Não, eu não errei na conta, é que não é uma simples soma dos dois.

Lendo essa ficha técnica ficou claro que números são apenas números. Na real, o Corolla anda muito bem e, em nenhum momento, achei que precisasse de mais força. Inclusive, em um raro momento que afundei o pé, a retomada foi satisfatória.

Ou seja, antes de ter as informações técnicas, jamais poderia imaginar que o motor fosse 1.8 com 122 cv. Estava crente que fosse 2.0, com potência próxima dos 150 cv. Mas alguns pilotos de teclado criticam o desempenho baseados nos números, sem nem ao menos terem sentado em um carro como esse.

Nem tudo são flores. O ponto fraco do carro, para mim, é o banco. Calma, não é aquela piada de que o banco não libera dinheiro para eu comprar. Estou falando literalmente dos assentos, duros e sem regulagem lombar. Nessa viagem longa que fizemos, senti falta do veludo macio do meu velho Sentra 2008, com o qual já fiz longas viagens como essa e tratou meu corpo melhor que o Corolla.

Poderia criticar também a falta do difusor de ar-condicionado para os passageiros do banco traseiro, mas quem foi atrás não reclamou. Nem mesmo as altas temperaturas do interior paulista e a falta de películas nos vidros foram suficientes para que os difusores dianteiros não dessem conta de refrigerar a cabine.

Quanto ao consumo, com álcool no tanque, a média na estrada foi de 12 km/l. Com gasolina, a média subiu para quase 16 km/l. Tenho certeza que o leitor vai achar pouco, diante de tanta tecnologia, mas considere que a velocidade de cruzeiro foi sempre no limite das vias, entre 110 e 120 km/h. Além disso, é sabido que, nessas condições, o motor a combustão é mais exigido, e por isso o consumo não é tão distante de um carro normal. Mas, ainda assim, considerei uma ótima média.

É no ciclo urbano que as coisas se invertem, já que nessas condições o motor elétrico supre as necessidades e poucas vezes o motor a combustão é exigido. Sendo assim, consegui a invejável marca de 19 km/l com álcool no ciclo urbano. Se você gosta de economizar, vai torcer por congestionamentos em seus trajetos diários.

Ponto que deve ser considerado é o custo de manutenção das baterias, que ainda é um mistério para muitos. Parece cedo para discutirmos isso, mas não é. Esse tipo de sistema exige substituição das baterias em algum momento da vida do carro, mesmo que isso aconteça daqui a oito ou 10 anos.

Ou seja, essa batata quente vai queimar na mão de algum dono no futuro, e o custo pode ser bem alto. Será que o Corolla híbrido será tão aceito no mercado de usados como sempre foram os convencionais? Acho que não.

Mas vamos ao que interessa. Vale a pena pagar mais caro por esse Corolla híbrido ou é melhor continuar nas já consagradas versões convencionais?

Quando falo em pagar mais caro pelo híbrido, pode depender um pouco do ponto de vista. A Toyota fez uma jogada de preços, em que por R$ 138 mil é possível optar entre o 2.0 flex na versão Altis Premium ou pelo híbrido na versão Altis. Só quando se equipara as versões, no caso Altis Premium para ambos os motores, é que temos a percepção que o híbrido é mais caro, já que custa mais de R$ 145 mil.

Sendo assim, digo que vale levar o híbrido para casa se você é daqueles que gosta de tecnologia, valoriza eficiência energética, mas não se preocupa tanto com a desvalorização na revenda.

Mas se você é mais conservador e quer esperar mais um pouco para ver como será a aceitação dessa tecnologia no Brasil, compre o Corollão convencional, seja ele GLi, XEi ou Altis Premium, e seja feliz com esse japonês.

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