TÓQUIO – Em um evento da Toyota que antecedeu o Salão de Tóquio, vários modelos da marca foram reunidos em uma pista improvisada. Ali, jornalistas do mundo inteiro podiam ter uma amostra grátis de modelos pouco conhecidos fora do Japão. Nossos olhos logo pousaram sobre um enorme sedã negro de ar senhorial. Estávamos diante do lendário Century, espécie de Rolls-Royce japonês.

Modelo tem 5,33m de comprimento e é construído artesanalmente Foto: Divulgação
Modelo tem 5,33m de comprimento e é construído artesanalmente Foto: Divulgação

Fabricado desde 1967 somente para o mercado local, o modelo custa o equivalente a US$ 180 mil. Tem sido, por décadas, o meio de transporte da família imperial japonesa.

A Toyota, aliás, construiu um Century conversível que seria usado pelo imperador Naruhito no dia de sua entronização, duas semanas atrás. O desfile em carro aberto pelas ruas de Tóquio, porém, foi adiado em respeito às vítimas das fortes chuvas que caíram no Japão, no início de outubro. Após a cerimônia, o monarca usou um formal Century fechado (e alongado).

O Century conversível não foi usado no desfile imperial Foto: Divulgação
O Century conversível não foi usado no desfile imperial Foto: Divulgação

Como o divino soberano

Em 52 anos de produção ininterrupta na cidade de Susono-shi, o Century teve apenas três gerações, a última delas lançada em 2018. São carros construídos artesanalmente numa fábrica silenciosa e sem robôs.

O Century de primeira geração foi fabricado de 1967 a 1997 Foto: Divulgação
O Century de primeira geração foi fabricado de 1967 a 1997 Foto: Divulgação

Com impressionantes 5,33m de comprimento, a carroceria evoluiu sutilmente ao longo do tempo. Como concessão ao século XXI, há faróis de LEDs. Em vez do plebeu logotipo em “T” da Toyota, traz uma fênix dourada na grade dianteira e no miolo das rodas.

Entramos no carro e nosso
untenshu
(chofer, em japonês) fecha a porta com um sólido “bonc!”, digno de um Mercedes-Benz Classe S. Este será um teste diferente: em vez de dirigir, vamos no banco traseiro, qual o divino soberano. O Century, afinal, é um automóvel para ser guiado por motorista particular.

Na parte traseira da cabine há duas poltronas reclináveis. Ficam em um nível ligeiramente mais alto que o dos bancos da frente e permitem acompanhar tudo o que se passa diante do carro.

A visão no banco de trás Foto: Jason Vogel
A visão no banco de trás Foto: Jason Vogel

Em vez de couro, são forradas com um tecido aveludado cinza visto pela última vez nos Opala Diplomata dos anos 80. Esse ar anacrônico é reforçado pela renda imaculadamente branca usada nas cortininhas das janelas traseiras, bem como nas capas protetoras dos bancos. É um clima nostálgico de casa de avó.

Cortinas de renda nas janelas traseiras Foto: Jason Vogel
Cortinas de renda nas janelas traseiras Foto: Jason Vogel

Nossas poltronas traseiras têm recheio de molas, como antigamente. A explicação é que as molas reduzem as vibrações com mais eficiência do que a espuma usada nos bancos atuais. A sensação é de que estamos em casa, no aconchego de um bom sofá.

Sobra espaço. Afinal, são 3,09m de entre-eixos. No descansa braço, uma tela de 7″ permite controlar o ar-condicionado e a inclinação dos bancos. Os passageiros de trás dispõem ainda de uma tela multimídia de 13″ perfeitamente encaixada entre os encostos dianteiros. As madeiras são de primeira qualidade, mas sem a ostentação dos carros de luxo europeus — tudo aqui é clássico e austero.

Nas duas poltronas, veludo cinza e muito espaço Foto: Divulgação
Nas duas poltronas, veludo cinza e muito espaço Foto: Divulgação

Flutuar em silêncio

A partida é em absoluto silêncio. Além de vidros grossos e toneladas de material fonoabsorvente, o Century já não usa o motor V12 da geração anterior. No lugar, entrou um conjunto híbrido do extinto Lexus LS600h: seu V8 5.0 vai atrelado a um motor elétrico, com potência combinada de 431cv.

Mas o que mais impressiona é a suavidade do rodar, proporcionada pela suspensão a ar. É como se estivéssemos flutuando em um mundo onde o tempo parou — se o imperador Hiroíto (1901-1989) voltasse à vida, não estranharia o Century modelo 2020.

O imperador Naruhito e a imperatriz Masako no dia da cerimônia de entronização Foto: STR / AFP
O imperador Naruhito e a imperatriz Masako no dia da cerimônia de entronização Foto: STR / AFP

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