Ter um carro elétrico se tornou sonho de consumo para alguns consumidores. Um ponto forte é a sustentabilidade e a economia: veículos assim não emitem gases de escape, o que reduz a poluição local, e o custo do combustível (elétrico) é menor do que o da gasolina.

No entanto, dúvidas sobre a segurança quando o assunto é o carregamento da bateria dos EVs (veículos eletrônicos, em tradução livre) ainda causam dúvidas. Isso porque nem a Tesla, marca do bilionário Elon Musk e referência para veículos elétricos, escapou de um episódio perigoso.

No final de 2021, um carro Tesla Model 3 entrou em combustão enquanto carregava sua bateria na garagem do proprietário, nos Estados Unidos. A notícia foi divulgada pelo canal de TV 6ABC. Ninguém ficou ferido e o motivo do incêndio ainda está sendo investigado.

Um caso semelhante aconteceu em julho de 2021. O site do jornal Washington Post noticiou o incêndio de um Tesla modelo S, que pegou fogo dentro da garagem do seu dono na Califórnia, Estados Unidos. Segundo a reportagem, riscos do tipo andam causando preocupação, pois fabricantes de veículos elétricos alertaram os proprietários para não deixarem os carros carregando sem vigilância, ou até não deixá-los totalmente carregados em garagens.

Empresas de automóveis como General Motors, Audi e Hyundai já chegaram a fazer um recall de veículos elétricos, alegando riscos de incêndio, nos últimos anos.

“Não achamos que todo veículo tenha esse raro defeito de fabricação. Mas não podemos arriscar, então estamos fazendo o recall de todos os veículos”, comentou o porta-voz da General Motors, Dan Flores, ao Washington Post.

Qual é o risco de uma bateria explodir?

Acidentes envolvendo explosões de carros elétricos não são tão comuns, segundo o EV FireSafe, projeto de pesquisa que tem como objetivo identificar os riscos de incêndio de bateria de lítio em EVs, principalmente quando o automóvel está conectado a um carregamento energizado.

De acordo com Emma Sutcliffe, diretora da iniciativa em Melbourne, Austrália, os estudos preliminares indicam baixa frequência nesse tipo de problema. A afirmação foi dada durante entrevista ao site notícias CNBC.

Uma pesquisa realizada pela seguradora de automóveis AutoinsuranceEZ aponta que os veículos elétricos apenas com bateria têm 0,03% de chance de pegar fogo, em comparação com a chance de 1,5% dos veículos com motor de combustão interna.

Já os veículos elétricos que são híbridos podem ser um problema maior. Eles possuem uma bateria de alta tensão e um motor de combustão interna, aumentando a porcentagem de risco de pegar fogo. Segundo o estudo, esses veículos têm uma probabilidade de 3,4% de incêndio.

Por que algumas algumas baterias pegam fogo?

O engenheiro eletricista Wanderlei Marinho da Silva, professor nos cursos de pós-graduação do Instituto Mauá de Tecnologia, explica que as baterias de carros elétricos são feitas de íon de lítio, amplamente utilizado pelas fabricantes de automóveis.

A bateria de um carro automotivo contém materiais ativos — uma mistura de óxido de chumbo, ácido sulfúrico, água e aditivos. Quando a pessoa dá a partida no motor do carro, uma corrente flui do polo negativo da bateria para o polo positivo da mesma. Isso faz com que a bateria descarregue, o que resulta na composição química de ambos os eletrodos, mudando no processo para o componente químico sulfato de chumbo.

Para recarregá-la é necessário colocar uma corrente na bateria de uma fonte externa de eletricidade, como um alternador, dínamo ou unidade de carregamento. Dessa forma, o sulfato de chumbo se converte e volta aos materiais originais de dióxido de chumbo e de chumbo poroso.

Nesse processo todo, se algo estiver fora do normal, as baterias podem inchar em decorrência do acúmulo de gases produzidos dentro dela. Quanto mais inchada, mais gases são produzidos, explica o professor.

Para entender melhor, esses gases se formam principalmente pela decomposição do eletrólito (substância que forma os íons), podendo formar H2 (hidrogênio), CO2 (Dióxido de carbono), CO (Composto orgânico), O2 (Oxigênio) e HC (Hidrocarbonetos).

É aí que está o risco de incêndio e explosões: “O H2 e CO são gases combustíveis e o O2 um oxidante. Ocorrendo um curto-circuito interno, temos os três elementos básicos para uma combustão”, ressalta Silva.

Tem jeito de tornar a bateria ainda mais segura?

O primeiro passo, segundo Silva, é resolver o problema do alto custo das baterias dos carros elétricos para que seja viável a produção e comercialização dos automóveis.

E, nesse processo, uma saída para aumentar a segurança seria recorrer ao uso de cápsulas desenvolvidas com materiais para retardar o avanço do fogo em um eventual acidente. Dessa forma, caso a bateria esquentasse, a cápsula de segurança se abriria e liberaria um produto para evitar as chamas.

Silva também também destaca a importância de melhorias no chamado BMS (Battery Monitoring system), tecnologia de monitoramento da bateria. Com seu avanço, o sistema pode se tornar mais preciso na detecção de riscos, evitando incêndios.

Longevidade da carga

Além da segurança, uma outra dificuldade enfrentada pelas fabricantes é tornar a bateria mais duradoura e com menor tempo de recarga. “O principal desafio está nas altas taxas de descarga em temperaturas altas (60°C) e temperaturas baixas (-5°C)”, explica o professor.

No Brasil, em média, os EVs podem ser completamente carregados em um prazo de 1 a 4 horas. A diferença ainda é grande, principalmente se considerar que leva menos de cinco minutos para encher um tanque com gasolina tradicional.

Um exemplo de a tecnologia de carregamento pode evoluir é com o modelo de carro Tesla SuperCharger. Ele promete carregar em 15 minutos o suficiente para percorrer 200 milhas (321 km).

*Com informações dos sites The Next Web, Tesla e CNBC.

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