No estudo “Principais Impactos dos Setores Automotivo e Autopeças no Estado de Pernambuco”, produzido pela Consultoria Ceplan, liderada pela economista Tânia Bacelar, com um pacote de informações sobre os Polo Automotivo de Pernambuco, a presença da Moura é descrita como âncora do processo enraizamento na presença da indústria de autopeças pela perspectiva que a adquiriu do novo mercado global de carros elétricos – que no Brasil está apenas começando.

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O documento foi entregue pelo prefeito do Recife, João Campos, na conversa com o ex-presidente Lula na última sexta-feira, quando lembrou gesto do então presidente para seu pai (Eduardo Campos), e com Pernambuco, a 15 dias de deixar o Governo, em 2010, quando assinou protocolo de intenções para instalação da nova planta da Fiat.

BESS Sistema de armazenamento de energia elétrica da Moura – Divulgação

De fato, a Moura é uma das maiores impulsionadoras do desenvolvimento tecnológico e social do Nordeste, operando cinco fábricas presentes na cidade de Belo Jardim, onde são produzidas 10 milhões de baterias por ano, sendo o maior volume voltado para abastecer o setor automotivo.

Além dele (carros, caminhões, motos e empilhadeiras), as fábricas da Moura fornecem, ainda, baterias para caixas eletrônicos, aparelhos hospitalares, antenas de telefonia, barcos, locomotivas, entre outras aplicações.

Mas sua inserção no futuro mercado global de carros elétricos se dá pelo fornecimento dos sistemas de baterias de lítio, por meio da parceria com a chinesa Contemporary Amperex Technology Co. Ltd. (CATL), para os veículos e-Delivery. Além de garantir o processo de manutenção e pós-vendas, provendo um atendimento local e de qualidade de assistência técnica para este importante componente do caminhão.

Os sistemas de baterias são produzidos na unidade industrial de lítio em Belo Jardim, e contam com componentes CATL e com componentes nacionais, atendendo aos modelos e-Delivery de 11 toneladas e 14 toneladas.

Os investimentos de R$ 1,6 bilhão do Grupo Moura em Belo Jardim foram decisivos para o desenvolvimento do único ICT brasileiro voltado exclusivamente para pesquisas relacionadas à eletrificação veicular e ao armazenamento de energia, o Instituto de Tecnologia Edson Mororó Moura, o ITEMM, grande parceiro tecnológico da Moura.

E a importância da empresa como âncora do Polo Automotivo de Pernambuco se expressa em iniciativas de investimentos em inovação, permitindo o enraizamento mais expressivo do desenvolvimento tecnológico no Estado.

O que a torna importante é que além da Stellantis e própria fábrica da Moura Baterias, o ITEMM tem entre seus clientes instituições como a CEMIG, CPFL, ENEL, parcerias com grandes universidades brasileiras.

Entre os diversos projetos do ITEMM, destaca-se a eletrificação veicular no Brasil, que teve início com o desenvolvimento do primeiro caminhão elétrico no País e posteriormente, com um livelab implementado no Instituto e que conta com o primeiro eletroposto implantado em Belo Jardim, foi dado início aos testes para carregamento de veículos elétricos de pequeno porte.

 

Um outro projeto da companhia que tem a ver com carro elétrico e energia renovável é o Battery Energy Storage Systems – BESS, gerado no ITEMM que garante economia durante o uso no horário de ponta evitando a interrupção de energia fora do horário em que a produção de usinas eólicas e solares param.

Com a empresa podendo reciclar 100% das baterias, garantindo um processo integrado e sustentável com os clientes.

DAVID BARROS
Instituto de Tecnologia Edson Mororó Moura, o ITEMM, Em Belo Jardim Pernmabuco. – DAVID BARROS

O Moura BESS é basicamente um sistema de acumuladores, com baterias e sistema de gestão (BMS), sistema de conversão de potência e painéis elétricos, além do sistema de gerenciamento de energia (supervisório) e sistemas auxiliares como HVAC, combate a incêndio, sensores e medidores de energia.
Isso quer dizer poder armazenar energia em contêineres, salas de alvenaria ou contar com formato personalizado para ser usada de acordo com a necessidade do cliente.

Na prática, ele materializa a célebre frase da presidente Dilma Rousseff que, aliás, inaugurou a fábrica da Stellantis quando disse que o Brasil iria estocar vento.

No discurso de abertura da ONU, em 2015, ela disse que se podemos estocar a energia hidrelétrica, “o vento podia ser isso também. Reconhecendo que não conseguiu ainda tecnologia para estocar vento”.

Hoje tem. Usado ao lado de energia eólica, o BEES na prática “estoca o vento”, guardando energia elétrica para ser usada no horário de pico.

Com a receita líquida da empresa quadruplicando entre 2007 e 2021 – parte desse sucesso creditando-se também ao polo automotivo de Goiana – e alcançando aproximadamente R$ 2,0 bilhões no último ano, a Moura consolidou sua importância para economia de Belo Jardim e região, gerando ganhos sociais para o território num modelo que em breve poderá ser replicado pela própria Stellantis como, aliás, já faz a Fiat em Betim (MG).

A Moura investe forte (mais de R$ 2 milhões) em projetos de Educação e tem um projeto de Transformação Social, o Instituto Conceição Moura. Além de programas e projetos de qualificação profissional, pesquisa e desenvolvimento demandados e articulados pela Stellantis junto a universidades e centros de pesquisas locais.

Isso acaba repercutindo no que os pesquisadores chamam de “sensação de pertencimento” de Belo Jardim, pela presença social da empresa em projetos de educação, saúde e desenvolvimento social.

A Stellantis não conseguiu (até pouco tempo) isso em relação a Goiana, mas já pode pode comemorar o fato de que em 2021 as taxas de abandono foram zeradas em metade dos municípios da área de influência da empresa, inclusive em Goiana, e na outra metade aproximando-se desse patamar.

O fenômeno se explica pelo fato de que, antes da implantação da então planta da Jeep, era significativa a proporção dos jovens que abandonavam o curso, não enxergando a perspectiva de conseguir emprego, muitos deles preferindo permanecer como mão de obra temporária na atividade sucroalcooleira que predominava na região.

Análises de micro dados do estudo da Ceplan mostram que a queda nas taxas de mortalidade infantil acentuou-se tanto em Pernambuco quanto na área de influência da Stellantis e especificamente em Goiana.

Pouca gente sabe, em Pernambuco, que a cadeia produtiva da Moura conta com mais de 6 mil empresas, que geram cerca de 420 mil empregos em todo território nacional com os 77 distribuidores Moura localizados em todos os estados brasileiros.

Muito menos ainda que ele tem mais de 3.000 SKU’s (modelos de produtos) em seu portfólio, em parceria com centros de desenvolvimento e tecnologia de acumulação em energia, com a que gerou o BESS o primeiro sistema de acumulação de energia nacional.

Dentro da lógica da nova dinâmica industrial automotiva (isso não consta do estudo da Ceplan), o desenvolvimento do mercado do carro elétrico e, antes dele do híbrido, movido a etanol passa não só pela Stellantis que em algum momento terá que eletrificar seus carros como pela Moura que passará de fornecedora de bateria Chumbo- Carbono (PbC) ou Íons de Lítio (Li-ion) com durabilidade de 10 anos, além de serem resistentes a descargas profundas e possuírem uma longa vida útil.

Nesse aspecto, a solução defendida por vários consultores de que o Brasil deve perseguir a rota o híbrido a etanol, antes do elétrico puro inclui tanto a Stellantis como a Moura o que abre um horizonte amplo para o Polo Automotivo de Pernambuco e que seja quem for a nova governadora terá que incluir uma maior aproximação institucional com elas.

Divulgação
Energia solar combinada com geração eólica. – Divulgação



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